Os conodontes estão extintos, mas existiram há aproximadamente 295 milhões de anos em Santa Catarina. Ancestrais dos peixes atuais, eles classificados como cordados primitivos, vertebrados e agnatos (veja detalhes no infográfico mais abaixo).

No local de pesquisas da Universidade do Contestado (UnC) conhecido como Campaleo, em Mafra, no Norte catarinense, foram descobertos recentemente centenas de exemplares de aparelhos completos de conodontes bem preservados e inéditos até então para a Bacia do Paraná, o que atraiu o interesse de diversos pesquisadores brasileiros e até estrangeiros e abre perspectivas de estudos na área.

Os conodontes muito possivelmente eram presas das diversas espécies de peixes que existiam no grande mar que cobria a região naquele tempo.

Morfologicamente, eles eram muito parecidos com as enguias atuais, possuíam corpo alongado e tinham simetria bilateral. Estima-se que seus corpos tinham entre 2 e 3 milímetros de largura e 40 milímetros de comprimento, apresentavam barbatanas, olhos e dentes. São os dentes que formam os vestígios mais encontrados na região por serem estruturas mais resistentes.

Atualmente, os estudos sobre conodontes possibilitam entender o clima e a biogeografia dos oceanos na Era Paleozoica, além de funcionar como uma importante ferramenta na datação relativa de rochas sedimentares e na indústria do petróleo.

O coordenador do Centro Paleontológico, Dr. Luiz Carlos Weinschütz e o professor Everton Wilner, ambos da UnC, explicam detalhes sobre o microfóssil.

Confira a entrevista abaixo:

"Nosso planeta é muito dinâmico, nos seus 4,5 bilhões de anos mudou bastante, e vai continuar mudando. No tempo dos conodontes da região de Mafra (final do Carbonífero - começo do Permiano, por volta dos 300 milhões de anos), estávamos terminando um grande período glacial que afetou principalmente o Hemisfério Sul.

Embora vivíamos um período frio, ocorriam pequenos períodos de aquecimento, que fazia com que os níveis dos oceanos subisse pelo derretimento do gelo e variações isostáticas da crosta, onde essas águas invadiam parte do continente preenchendo as partes baixas, formando mares continentais (grandes lagoas salgadas), foi num momento desses que a vida tornou-se abundante, estando registrada pelos fósseis que encontramos".

"Existem vários níveis (camadas de rochas) com fósseis na região de Mafra, e neste local que foi encontrado os exemplares de conodontes já era conhecido desde 1908 (antes mesmo de Mafra existir), principalmente pela ocorrência de fósseis de pequenas conchas de braquiópodes e peixes (grupo extinto dos paleoniscídeos).

Mas desde o final dos anos 1990, quando foi criado o Centro Paleontológico da Universidade do Contestado, as pesquisas na região foram intensificadas, e consequentemente muitas descobertas foram feitas. Podemos destacar a ocorrência de 5 a 6 espécies de peixes paleoniscídeos, pelo menos uma espécie de tubarão, várias espécies de braquiópodes, esponja marinha, muitos insetos, amonites, fragmentos vegetais, microfósseis, entre outros.

A diversidade nos dá evidências de como seria a geografia e clima da região. Hoje uma das hipóteses é que na região existia um corpo d'água (grande mar continental) com pouca oxigenação, que ocupava áreas baixas e até possivelmente estruturas canalizadas tipo fiordes originados pela movimentação de geleiras deste período glacial".

Os conodontes surgiram há pelo menos 500 milhões de anos, e são considerados um dos primeiros animais vertebrados a surgirem no Planeta, portanto seriam os ancestrais dos peixes e de todos os organismos com coluna vertebral que conhecemos.

Mas não foram os primeiros organismos a nadarem por aqui: diversos outros organismos invertebrados já dominavam os mares antigos da região e do mundo a mais de 540 milhões de anos, muito antes de existir o Oceano Atlântico.

Os conodontes de Mafra não são os mais antigos conhecidos, mas chamaram a atenção de pesquisadores do mundo todo porque estão muito bem preservados, embora só encontramos o que seria o aparelho mastigatório deste animal.

Não encontramos o resto do corpo porque seu esqueleto rudimentar era cartilaginoso e muito frágil, portanto difícil de preservar como fóssil.

Mesmo assim, na região de Mafra já foram encontrados centenas de espécimes que hoje são objeto de pesquisas, inclusive são muito utilizados na pesquisa do petróleo por serem excelentes termo-marcadores. Isto é, esses dentes sofrem alterações nas suas propriedades, principalmente na cor conforme o processo de transformação da crosta atua para formação das rochas (pressão e temperatura), este fóssil poderá nos trazer informações sobre os valores de temperatura atingidos na formação das rochas da Bacia Sedimentar do Paraná, e consequentemente indicar a possibilidade da formação de petróleo ou não na região.

Entender como este organismo surgiu, vivia e desapareceu, contribuiu para o conhecimento da humanidade sobre a vida na Terra, são pequenas janelas que se abrem para o passado".

As reconstituições dão uma boa noção do animal quando vivo, mas são poucos os exemplares fósseis encontrados com impressão do corpo inteiro, o que daria mais informações do animal, novas descobertas poderão trazer mais informações. Sabemos que ele era muito pequeno de 1 a 4 centímetros, olhos bem grandes, pele possivelmente recoberta por microescamas.

Os dentes eram utilizados para triturar e cortar, e somados a presença de olhos grandes sugere que tenham uma alimentação específica, podendo ser de restos de organismos mortos e/ou organismos menores, mas também sugere se que poderiam se alimentar por filtração, eram presas de peixes maiores. Sua reprodução provavelmente seria parecida com a dos peixes atuais.

O conodonte possui mandíbula?

Ele não tinha mandíbula para abrir e fechar a boca e mastigar. A "boca" ficava sempre aberta por onde o alimento entrava e os dentes é que se movimentavam dentro da "boca". São agnatos, peixes sem mandíbulas.

O conodonte entrou em extinção?

Conodonte é um grupo com várias espécies (mais 1500 espécies fósseis conhecidas) que surgiram e desapareceram com o tempo, algumas espécies evoluíram para outros tipos de peixes, mas algumas espécies de conodontes conviveram com esses peixes até serem totalmente extintos, por volta dos 200 milhões de anos.