Sem o apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a vacinação contra a covid-19 no Brasil precisa ser estimulada por "pessoas de visibilidade" para que a população aceite a imunização, diz a médica epidemiologista Denise Garrett, vice-presidente do Sabin Vaccine Institute, uma organização nos Estados Unidos que incentiva a imunização pelo mundo. 

Ao longo da pandemia, Bolsonaro disse que não irá se vacinar. "Eu não vou tomar vacina e ponto final", disse na última terça-feira (15) em entrevista à TV Bandeirantes. "Se minha vida está em risco, o problema é meu." 

Tais declarações já têm reflexos na sociedade. Segundo pesquisa do Instituto Datafolha, um em cada cinco brasileiros diz que não quer receber a vacina. Entre os apoiadores de Bolsonaro, 30% rejeitam a vacinação. 

Para Garrett, Bolsonaro dá um mau exemplo, já que, a partir da vacinação a transmissão do vírus diminui. "O problema é que [não tomar vacina] não afeta só a ele. As minhas decisões vão afetar outra pessoa", comentou a médica.

Ela avalia que as campanhas de publicidade devem ser no sentido de mostrar que a vacina não é apenas uma proteção individual, mas de toda a sociedade. "As campanhas têm que ser nesse sentido. E aí que eu vejo a importância do papel da imprensa e a importância de a gente poder contar com pessoas de visibilidade no país.".

A gente vai precisar da ajuda de cada artista, de cada atleta, de cada influenciador de estar realmente se unindo nessa campanha, mesmo que não seja com coordenação do Ministério da Saúde. Que os artistas também estejam se conscientizando da importância do empenho deles. 


Apoio de personalidades 


Ela lembra que, nos Estados Unidos, políticos e artistas influenciam na adesão da população. Garrett cita os últimos três ex-presidentes norte-americanos. Barack Obama, George W. Bush e Bill Clinton prometeram receber a vacina em frente às câmeras para promover a vacinação. "E isso é óbvio. O papel do presidente nessa hora é promover a confiança do público, a segurança da população.".

Em números absolutos, o Brasil é o segundo país mais afetado pela covid-19, atrás apenas dos Estados Unidos. O número de casos já está por volta de 7 milhões e as mortes estão próximas da marca de 185 mil pessoas. 

Como que um presidente de um país --o segundo em número de mortos-- se recusa a apoiar o que, no momento, é a única ferramenta que a gente vai ter para controlar essa pandemia? 

No evento em que o governo anunciou o plano nacional de imunização, ontem, em Brasília, Bolsonaro voltou a indicar que acha que a pandemia já estaria rumo ao fim. "Depois da tempestade, a bonança. É isso que vislumbro no horizonte do Brasil", disse. "Se Deus quiser, brevemente estaremos na normalidade." 

Garrett, por sua vez, diz que "a população ainda não viu o pior dessa pandemia". "Em termos não somente de mortes, mas em termos de sequelas e efeitos a longo prazo do vírus que a gente ainda não sabe", comenta. "Quando o presidente fala que a vacina pode ter efeito adverso, e os efeitos adversos do vírus a longo prazo que a gente nem conhece?" 

É lastimável, é deprimente você ver um presidente, que deveria estar defendendo a saúde da população do Brasil, tomar uma posição negacionista e antivacina. A gente tem um antivacina no governo do Brasil. É uma coisa inadmissível vinda de um chefe de estado.

A médica diz que agora é o momento de buscar a conscientização sobre os imunizantes. "[Temos que] que preservar vidas agora que a gente tem uma vacina", diz. "É uma corrida contra o relógio. E cada um de nós nesse sentido tem um papel a desempenhar. Este fim de pandemia vai depender de cada um de nós."