José Eduardo dos Santos, que governou Angola por quase quatro décadas, morreu nesta sexta-feira (8). Ele tinha 79 anos. Ele venceu uma guerra civil brutal e em seguida conduziu o país em meio a um boom do petróleo.

"O governo angolano informa com grande dor e consternação o falecimento de Santos", afirma um comunicado divulgado no Facebook.

A presidência disse que Zédu (como é chamado pelos portugueses) morreu na clínica Barcelona Teknon, onde estava recebendo tratamento médico após uma "doença prolongada".

Conhecido dentro de seu partido MPLA como "o arquiteto da paz", José Eduardo viu seu legado cada vez mais manchado por alegações de corrupção desenfreada e nepotismo, em especial depois que os combates terminaram no país em 2002.

Considerado por muitos um intocável, os angolanos ficaram chocados quando ele deixou o cargo antes das eleições em 2017 e ainda mais quando seu sucessor escolhido a dedo, João Lourenço, se voltou contra ele, fazendo uma campanha anticorrupção que levaria o filho de Santos à prisão e faria com que os bens ligados à sua filha fossem congelados.


"Não há atividade humana sem erros, e aceito que também eu tenha cometido alguns", disse ele em um discurso final como presidente do MPLA em 2018, sua última aparição na linha de frente política.

Mas muitos que viveram as décadas de luta, que deixaram meio milhão de mortos, creditam a ele a estabilidade de um país que só conhecia a guerra desde que se tornou independente de Portugal, em 1975.

A decisão de conceder anistia a todos os lados e oferecer até mesmo a seus oponentes da guerra civil oportunidades de negócios e terra, bem como algum espaço político, foi crucial para garantir que os combates não voltassem a acontecer.

Os defensores de Santos dizem que foi esse mesmo instinto político de estabilidade que o levou a se retirar do poder com pouco barulho, algo quase sem precedentes para um presidente africano que serviu como mandatário por metade de sua vida.

'Presidente por acidente"

Ele frequentemente se descrevia como um presidente acidental, tomando as rédeas depois que o primeiro líder de Angola independente, Agostinho Neto, morreu durante uma cirurgia de câncer em 1979.


Com Neto tendo servido apenas por quatro anos e Santos, na época com 37 anos, considerado um candidato externo relativamente fraco, poucos poderiam imaginar que ele governaria por quatro décadas.

Em 2003, Zédu baniu o secretário-geral de seu partido para um cargo subalterno por parecer um pouco ansioso para substituí-lo. João Lourenço teria de esperar 14 anos para finalmente concretizar o seu desejo de se tornar o próximo presidente de Angola.

"Ele humilhou as pessoas", disse Alves da Rocha, economista sênior que trabalhou por muitos anos no Ministério do Planejamento. "Essa é uma das razões pelas quais o apoio a ele entrou em colapso quando ele deixou o cargo."