As boas ideias e a ousadia foram combustíveis para que as obras de Jaime Lerner, que morreu na quinta-feira (27), ficassem marcadas para sempre em Curitiba e no Paraná. Mas, quem seguiu a mesma profissão do tio, de arquiteto e urbanista, afirma que as gestões humanas e transformadoras do político serviram de modelo para todo o mundo.


"Ele sempre pensou em fazer para a população, para deixar um legado para o povo no presente e no futuro. Era mobilidade, cultura, meio ambiente, ele cuidava de cada detalhe. Pensando no seu local, na sua cidade, no seu estado, mas com a mente aberta, indo na contramão de ideia batida, ele trabalhou, criou e deixou um legado mundial", diz o sobrinho Milton Naigeboren, de 52 anos.

Foi com a profissão somada à dedicação que Jaime Lerner trilhou os caminhos até a vida pública: foi três vezes prefeito de Curitiba e duas vezes governador do Paraná.


"Recentemente, toda vez que a gente estava fazendo um projeto ele olhava e falava: 'não há uma segunda chance para uma primeira boa impressão'. Ele ensinava demais e acredito que, além da inteligência e criatividade, ele também teve muita coragem em seus projetos", pontua o sobrinho.

Preservação da memória

Lerner é considerado um dos paranaenses mais importantes da história do estado pela carreira ímpar de planejamento urbano, preservando e valorizando as histórias e as culturas locais. O maior feito, que o deixou conhecido internacionalmente, foi a adoção do sistema de transporte de BRT, instalando canaletas exclusivas para ônibus e terminais integrados por Curitiba.


"A cidade cresceu em função do transporte, foi desenhada a partir disso. Ele revolucionou o transporte, mas também deixou legados importantíssimos de preservação da memória porque antes não existia uma lei que preservação os edifícios. Jaime preservou o Paiol de Pólvora e transformou no símbolo da cultura. Ele transformou a cidade com essa questão do patrimônio. A cidade estava em um período de expansão, com ruas abrindo, então, se não fizesse isso naquele momento a gente dificilmente teria algum imóvel preservado", conta Naigeboren.


Durante essa inauguração do Teatro Paiol, na década de 70, o político chegou a compor uma música com Vinícius de Moraes, chamada "Malandro de araque".


Na contramão

Na onda do planejamento urbano da capital paranaense, Lerner teve a oportunidade de concretizar outras ideias consideradas ousadas para a época.


"Ele fez o primeiro calçadão do Brasil. Só o fato de ele fechar a Rua das Flores já foi um ato corajoso. Os comerciantes não queriam. Mas, depois foi um case de sucesso. Na época em que o carro era novidade, Jaime começou a pregar ao contrário, de primazia aos pedestres. Ele falava que tinha que ter uma densidade, um uso misto, senão não havia mobilidade de verdade", lembra Naigeboren.

A Rua das Flores, mais conhecida atualmente como XV de Novembro, virou referência em diversas cidades do mundo. Em Curitiba, ela virou ponto turístico, de encontro, de comércio e também foi palco de momentos importantes da história do país, com grandes protestos.

Cartões postais

O fechamento de uma rua bem no Centro de uma capital inaugurou uma série de obras que viraram cartões postais no Paraná.


Jaime Lerner projetou diversos parques, como o Barigui, Ópera de Arame, Jardim Botânico, São Lourenço, Tingui e Tanguá. Além da Rua 24 horas, que se tornou um ponto comercial e turístico.


"A questão dos parques que ele criou, não era só um parque de lazer, era um projeto de saneamento. Quer dizer, tinha a bacia do Rio Barigui, era um local de enchente, então ele falou: 'vamos fazer um parque aqui'. Às vezes até aparece matéria dizendo que a ponte está com água, que o parque está alagado. Mas, é para acontecer isso mesmo, para drenar e absorver devagarinho a água da chuva, para o rio ter para onde transbordar. Hoje, são grandes cartões postais, mas que também servem para o funcionamento da cidade".


Com o olhar para a criação de espaços de encontro, o arquiteto e urbanista também realizou obras importantes no interior do Paraná, como o programa "Velho Cinema Novo" que reativou cinemas antigos abandonados; a Vila Olímpica em Maringá; o calçadão de Londrina; Canal da Piracema, considerada a maior "escada" de peixes do mundo; entre outros projetos.


"As equipes dele sempre foram afinadas, trabalhavam realmente em grupo, eram criativas. Não havia internet, nem informações como tem hoje, mas Jaime trazia seus ensinamentos e conceitos que modificavam os locais e deram nova função", pontua o sobrinho.

Ideias sustentáveis

Dentre as marcas de Lerner, estão as ações relacionadas ao lixo e o meio ambiente. Com o programa "lixo que não é lixo", ele mostrou a importância da separação do que pode ou não ser reciclado.


"Hoje, pelo menos em Curitiba, você pode ver que as pessoas separam o lixo, então dessa forma fica mais fácil para o pessoal fazer a reciclagem, reaproveitar itens, transformá-los. Jaime também criou o Câmbio Verde, para as pessoas de baixa renda trocarem lixo por comida", conta o sobrinho

Com o olhar para a criação de espaços de encontro, o arquiteto e urbanista também realizou obras importantes no interior do Paraná, como o programa "Velho Cinema Novo" que reativou cinemas antigos abandonados; a Vila Olímpica em Maringá; o calçadão de Londrina; Canal da Piracema, considerada a maior "escada" de peixes do mundo; entre outros projetos.


"As equipes dele sempre foram afinadas, trabalhavam realmente em grupo, eram criativas. Não havia internet, nem informações como tem hoje, mas Jaime trazia seus ensinamentos e conceitos que modificavam os locais e deram nova função", pontua o sobrinho.

Ideias sustentáveis

Dentre as marcas de Lerner, estão as ações relacionadas ao lixo e o meio ambiente. Com o programa "lixo que não é lixo", ele mostrou a importância da separação do que pode ou não ser reciclado.


"Hoje, pelo menos em Curitiba, você pode ver que as pessoas separam o lixo, então dessa forma fica mais fácil para o pessoal fazer a reciclagem, reaproveitar itens, transformá-los. Jaime também criou o Câmbio Verde, para as pessoas de baixa renda trocarem lixo por comida", conta o sobrinho.


Dedicação e bom humor

Lerner formou-se em arquitetura em 1964 pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e trabalhou no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) desde a criação, em 1965.


Em 2002, foi eleito presidente da União Internacional de Arquitetos (UIA). Ele também foi fundador do Instituto Jaime Lerner, entidade sem fins lucrativos e da Jaime Lerner Arquitetos Associados (JLAA).


"No escritório de arquitetura, ele gostava de se reunir com os jovens, com os estagiários. Ele tinha uma animação única. Me lembro que em um dia chuvoso, todo mundo estava reclamando do clima, e o Jaime entrou sambando, brincando e falando: 'hoje vai ser um ótimo dia'. Ele era otimista, totalmente do bem", revelou o sobrinho.

Durante a vida, o político casou-se com Fani Lerner e teve duas filhas: Andrea e Ilana. A esposa morreu em maio de 2009, aos 63 anos.


Lerner teve seis livros publicados, a maior parte deles tratando sobre planejamento urbano. Ele recebeu prêmios e títulos internacionais, com destaque para o Prêmio Máximo das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em 1990, e Unicef Criança e Paz, em 1996.


Em 2010, ele foi listado pela revista americana Time como um dos 25 pensadores mais influentes do mundo.


"Acredito que só agora tivemos a real noção do quão importante ele era não só para nós da família. Ele foi uma pessoa sempre muito divertida, bem humorada, extremamente simples, sempre animou os encontros. Era culto, viajado, bem relacionado. Tinha um humor típico. Foi uma honra conviver e tenho certeza que vai fazer muita falta para muita gente", conclui Milton Naigeboren.