Logo na primeira reunião com Lira e Pacheco, os novos chefões do vitorioso Centrão, Bolsonaro foi direto ao ponto: depois de elegê-los, graças à aquisição dos votos de parlamentares pelo general Ramos, com as "emendas extras", o presidente apresentou a fatura: entregou uma lista com 35 projetos que quer ver aprovados. 

Nesta "nova" política do é dando que se recebe, baseado na compra e venda de votos no Congresso, sem muita frescura, o governo dividiu e lista de propostas por temas, como revelou o Estadão/Broadcast em reportagem de Camila Turtelli e Daniel Weterman. 

São cinco pacotes: "retomada do investimento", "fiscal", "costumes" e "outras pautas". A pandemia deve ter entrado em "outras pautas". 

O autor é o articulador político Luiz Eduardo Ramos, o mesmo ministro general que comandou, do seu QG no quarto andar do Palácio do Planalto, a operação arrasa quarteirão no Congresso, em que Lira e Pacheco ganharam de lavada.

Se Rodrigo Maia ainda segurava algumas pautas mais obcenas, estapafúrdias e autoritárias de Bolsonaro, agora com Arthur Lira a porteira foi escancarada de vez para passar a boiada, como queria Ricardo Salles, naquela teratológica reunião ministerial de abril que selou o destino de Sergio Moro.

Em seu primeiro ato como presidente, para mostrar serviço, Lira simplesmente resolveu eliminar a oposição da direção da Câmara, mas foi obrigado a voltar atrás no dia seguinte, diante da forte reação dos partidos de esquerda, que ameaçaram obstruir a pauta.

Em seu primeiro ato como presidente, para mostrar serviço, Lira simplesmente resolveu eliminar a oposição da direção da Câmara, mas foi obrigado a voltar atrás no dia seguinte, diante da forte reação dos partidos de esquerda, que ameaçaram obstruir a pauta.

Os presidentes do Senado e da Câmara foram juntos ao Palácio do Planalto para apresentar suas prioridades, mas as pautas não bateram.

Eles se comprometeram com a votação das reformas econômicas, mas falaram da urgente necessidade de vacinação em massa e na criação de uma alternativa para o auxílio emergencial, temas que não estão entre as principais preocupações do governo.

Na lista de Bolsonaro, as prioridades são a privatização da Eletrobras, para agradar ao mercado de Paulo Guedes, e a chamada pauta de costumes, para agradar à ala ideológica dos filhos e do guru Olavo de Carvalho, que anda meio ressabiada com o todo o poder dado ao Centrão. 

Encabeçam a lista de costumes do governo o projeto para a liberação de armas e munições, uma obsessão presidencial desde a época da campanha, reforçar a lei da Garantia e da Ordem (GLO) e a adoção do homeschooling, uma reivindicação das grandes corporações privadas de ensino, assuntos que nem entraram na pauta dos parlamentares.

Ricardo Salles também deve estar fazendo sua listinha para acabar de vez com órgãos de controle e fiscalização do meio ambiente, como o Ibama e o ICMbio, e anistiar garimpeiros, grandes mineradoras, madeireiros, criadores de gado e predadores em geral da Amazônia. 

Fico me perguntando o que não farão agora, com a porteira arrombada, ministros terraplanistas como Damares Alves e Ernesto Araújo, depois de ouvir o poderoso Centrão em peso gritando "mito", na abertura do Ano Legislativo, enquanto a minoritária bancada do PSOL berrava "genocida" e "fascista".

Para mostrar que não está de brincadeira, depois de assumir o controle da Câmara e do Senado, Bolsonaro compareceu à cerimônia acolitado pelos três comandantes militares, o que não é muito comum nesses eventos em países democráticos.     

Com as mudanças desta semana no jogo do poder, o governo passará a ter agora três alas bem distintas: a militar, a ideológica e a política, comandada pelo Centrão, cada uma com os seus próprios interesses.

Bolsonaro só tem um: a reeleição. O resto vai ter que se adaptar a esse projeto, que inclui a proteção dos filhos por mais quatro anos de mandato.

Entre o resto, inclui-se esse país onde vivemos, com 212 milhões de habitantes, que só querem ser vacinados para poder voltar às ruas e reivindicar seus direitos, atropelados um a um, nos últimos dois anos de loucura, dor, morte e medo do amanhã.

Enquanto a boiada vai passando, e o ministro da Saúde desaparece no meio da confusão, arma-se o teatro do grande acordão pela governabilidade neste pobre país sem nenhum programa de governo para nos tirar deste sufoco, além das "reformas" e da privatização da Eletrobras, como se isso fosse mudar alguma coisa na fila do pão.

Vocês ainda vão sentir saudades do Rodrigo Maia, que não teve coragem para abrir o processo de impeachment, mas servia de anteparo para coisas piores, segurando a boiada que agora vem vindo em cima de nós.