O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse hoje ter ordenado o cancelamento do acordo feito pelo Ministério da Saúde com o governo de São Paulo para aquisição de 46 milhões de doses da CoronaVac, a vacina de origem chinesa desenvolvida e testada pelo Instituto Butantan (SP) a fim de combater o coronavírus.

"Já mandei cancelar, o presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade", afirmou ele após visita a instalações da Marinha em Iperó (SP), nesta manhã. "Até porque estaria comprando uma vacina que ninguém está interessado nela, a não ser nós.".

O imunizante é peça central de um novo conflito entre Bolsonaro e Doria, ex-aliados que se tornaram desafetos e prováveis concorrentes na eleição presidencial de 2022.

O presidente também expôs hoje sua insatisfação com a repercussão das negociações referentes ao acordo mediado pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello (SP), para compra da CoronaVac. Em suas redes sociais, Bolsonaro recebeu várias críticas de apoiadores —alguns se disseram "traídos"— e mensagens que pediam que ele não adquirisse vacina produzida por uma "ditadura comunista".

Bastante irritado, o chefe do Executivo federal disse que não fala com Doria, que o "diálogo é zero", e acusou o tucano de agir por interesse eleitoral. "Parece que é a última cartada dele na busca de popularidade ou para retratar tudo aquilo que ele perdeu durante a pandemia.".


"Uma pessoa [Doria] tentou tirar um proveito político em cima disso, ele tinha uma audiência marcada para hoje com o ministro Pazuello. Ele [Pazuello] passou mal, acho que está baixado no hospital ainda, e depois o Pazuello fez uma videoconferência com alguns governadores onde o Doria entrou no circuito. E o Doria, acabando a videoconferência, correu para a imprensa para falar que ele havia assinado um protocolo para a aquisição de vacina chinesa, essas são as palavras dele.".

"Eu não converso com uma pessoa que usou meu nome nas eleições e meses depois começou a me atacar", completou o presidente, lembrando que Doria venceu a disputa eleitoral com Márcio França (PSB), em 2018, na condição de aliado —a parceria ficou conhecida em SP como "BolsoDoria".

O anúncio do acordo entre a União e o governo de SP ocorreu ontem, com declarações de Pazuello e Doria. Hoje, no entanto, Bolsonaro desautorizou o seu próprio ministro e disse que o governo não comprará a vacina. A justificativa é que o imunizante ainda não tem eficácia comprovada.

"Toda e qualquer vacina está descartada. Tem que ter uma validade da Saúde e uma certificação por parte da Anvisa também."

Embora tenha ressaltado que a premissa para compra de vacina destaca-se pela segurança e eficácia conforme aprovação da Anvisa, o governo federal assinou, em agosto, MP (Medida Provisória) que libera R$ 1,9 bilhão para produção, compra e distribuição de 100 milhões de doses da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com o laboratório Astrazeneca. No Brasil, a pesquisa sobre esse imunizante é liderada pela Fiocruz.

As vacinas da Sinovac e da Astrazeneca estão na mesma fase 3, o estágio em que são feitos testes massivos do imunizante. Nenhuma delas ainda tem eficácia comprovada nem autorização de uso pela Anvisa