Um grupo de fisioterapeutas denunciou uma clínica que fica em um prédio do bairro do Caminho das Árvores, em Salvador, por falsificar recibos, usando o nome deles em documentos, com o intuito de embolsar dinheiro de plano de saúde. O esquema movimentou mais de R$ 2 milhões.
O caso é investigado pelo Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Crefito) e pela 16ª delegacia de Polícia Civil, na capital baiana. Segundo as investigações, um único profissional de fisioterapia teve o nome usado em recibos que somam R$ 750 mil.
Ricardo Pereira conta que ficou sabendo que mais de R$ 750 mil em recibos tinham sido movimentados no nome dele, e destacou que todos os documentos tinham assinaturas falsas, muitos deles com caligrafia diferente.
"Tem vários tipos de assinaturas, vários tipos de caligrafias. Inclusive, ao responder à Sulamérica, eu disse que não poderia declarar uma coisa no meu nome, porque não foi emitido por mim, porque eu ia ter problema com a Receita Federal", disse o fisioterapeuta.
"Eu me disponibilizei a fazer o exame grafotécnico e até pedi para quebrar o sigilo da minha conta, porque eu nunca recebi R$ 1 de paciente", contou
Segundo o Crefito, a suposta fraude acontece desde 2017. De acordo com os denunciantes, existe a suspeita de que a clínica usava de forma irregular nomes de fisioterapeutas como Rodrigo, para conseguir dinheiro dos planos de saúde. Para isso, ela usava comprovantes de atendimento falsos.
"A gente foi descobrindo outros fisioterapeutas, que também foram vítimas de fraudes, e a maioria, eles [clínica] colocavam que atendiam para eles. O plano dele é Sulamérica também, e eles colocavam que atendiam para esposas, para filhos e nós nunca atendemos eles", disse Rodrigo.
Em nota a Sulamérica informou que "como parte da rotina, a empresa realiza auditorias periódicas da rede de prestadores e dos pedidos de reembolsos enviados para os beneficiários, para os casos de atendimentos realizados por profissionais de fora da rede".
Nove fisioterapeutas fizeram a denúncia ao Crefito. Um desses profissionais, que preferiu não revelar a identidade, disse que ficou surpresa com um recibo de R$ 110 mil.
"Na quarta-feira passada, eu recebi uma ligação de Douglas, que é da Sulamérica, informando sobre a emissão de um recibo em torno de R$ 110 mil no meu nome. Ele me passou os recibos por e-mail, eu verifiquei todos e constatei que nenhum deles foram assinados e emitidos por mim", contou.
Dos nove profissionais, sete também foram à 16ª delegacia para fazer o boletim de ocorrência.
Em nota, a Polícia Civil afirmou que elementos comprobatórios apresentados pelos solicitantes serão analisados e as pessoas envolvidas serão ouvidas.
O Conselho Regional da categoria pretende, nesta sexta-feira (21), encaminhar uma denúncia-crime ao Ministério Público da Bahia (MP-BA) e quer também acompanhar o inquérito policial.
Entre os recibos falsificados, há também alguns com nomes dos próprios donos da clínica.
"Já se constatou que existem indícios de irregularidades. A gente consegue identificar facilmente pelo menos quatro transgressões de documentos, falsidade ideológica, fraudes. E a sanções podem ser de uma simples advertência ao cancelamento do registro profissional", explicou o presidente do Crefito, Gustavo Vieira.
"Diante da gravidade, a gente tem uma ideia de que a penalidade máxima deve ser atribuída, mas a gente precisa garantir às pessoas envolvidas o direito da defesa. A gente só pode bater o martelo sobre a sanção aplicada no momento do julgamento", acrescentou.
A empresa citada pelos fisioterapeutas, a LT Fisioterapia, disse ainda vai se pronunciar sobre o caso.